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SATURADO






  É como um grito que não pode ser ouvido. Me sinto sufocado a todo momento. Não me sinto vivo. Me sinto vazio e invisível. Como se estivesse preso em um lugar sem saída. A sensação que eu tenho é de que isso nunca vai acabar e vou sempre permanecer parado. Embora esteja sendo levado pela multidão. O tempo passa e fico cada vez mais desesperado. Como se minha juventude estivesse de lado e como se já estivesse esgotado nesta vida. O relógio desperta às 6 da manhã e minha única vontade é permanecer deitado. Dormindo. Sonhando com um mundo e com uma vida que eu sempre quis. Sonhando com um lugar livre de tarefas, de prazos, de compromissos, livre de relações supérfluas. Onde eu possa respirar profundamente e relaxar meu corpo sobre a grama, observar os pássaros voando em um belo céu azul coberto de nuvens. Onde eu possa sentir um vento fresco percorrendo meu corpo e ouvir os sons do mar, das árvores. Distante. Longe de tudo. Sem peso. Sem carga pesada. Sem barulho de vozes, passos, buzinas, sirenes, pessoas gritando e brigando. Sem estresse. Um mundo do qual me fizesse acreditar que viver realmente vale a pena. Sabe, eu gosto de imaginar. Sonho até demais. Eu desenho na minha mente o que sinto e o que queria sentir. Me faz ser mais paciente e ainda ter esperanças. Porque acredito que exista uma razão pra tudo. Deve existir um motivo pra tudo isso. Mas parece que as respostas nunca vão vir e eu vou sempre ficar acreditando, crendo, sonhando, imaginando, mas nunca realizando. Será que um dia vou me sentir realizado? Será que um dia vou voltar a sentir o amor puro novamente? Eu queria que tudo acabasse e essa vida fosse um pesadelo. Seria mais fácil. Logo acordaria e  meu mundo dos sonhos estaria me esperando. E seria eternamente feliz. É, seria bem mais fácil. Se pelo menos alguma resposta fosse dada...

  Eu não quero muito. Sonho alto, mas sonho com pouco. Não quero ser o dono do mundo. Eu só quero me sentir parte dele. E tudo fica dentro de mim, guardado e nada funciona direito. Não consigo lidar com minha própria rotina. Tudo por mais leve que seja me trás um peso quase que impossível de segurar. E nada sai dentro de mim. Tenho vontade de gritar, de chorar, de falar sobre todas essas coisas, mas nada sai. Quando penso que finalmente poderei me entregar inteiramente, amar uma pessoa ou simplesmente confiar em criar algum laço com alguém mais uma vez, sou pisoteado. Entrego um pedaço de mim. Me sinto um produto. Eles olham para mim com um olhar maldoso. Falam coisas que finjo não escutar pra não doer mais. E novamente sinto que não posso mais ser livre enquanto estiver neste ciclo. Com essas pessoas. Nesse lugar. Parece que estou doente e nunca encontro a cura. E eu continuo sonhando em um dia poder me sentir de novo. Quero me olhar no espelho e me sentir confiante. Quero olhar ao meu redor e me sentir amado. Quero estar aqui de fato. E eu espero que enquanto isso não aconteça, que mudanças ocorram. Que eu tenha força para permanecer acordado. Que as pessoas possam olhar olho a olho pra quem está do seu lado e parar de julgar e criticar. Que as pessoas parem de vomitar palavras como se soubessem quem são e como se soubessem o que o outro sente. E que minhas vontades não estejam longe de serem alcançadas.

E ainda não sei o que dói mais: se sentir sozinho, estar de fato sozinho, se sentir vazio ou não se sentir vivo.


Henrique Lima

Comentários

  1. Nossa, como eu me sinto exatamente assim, parece que a sociedade esta me à me necrosar, minha voz é um murmuro frente aos gritos, criticas e um caos insuportável somada à minha ansiedade. Uma sociedade desmoronando defronte ao meio ambiente, surtos de estresse que expelem em meio dessa humanidade doente pelo consumismo, desprezam a a harmonia entre cada ser humano, o que vemos na TV é uma demonstração disso, corpos dilacerados, abusos sexuais e acidentes, um verdadeiro terrorismo digital que apenas servem para que criminosos sejam colocados ao holofotes, que é a única coisa que eles querem, talvez com vingança, para que a pessoa afetada tenha que ver na sua frente, e em diversos outros contextos. Mas enfim é isso.

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