Produto. Sim, este sou eu. Um objeto pronto para ser usado. Em geral sou deixado na prateleira e utilizado em momentos em que não resta mais ninguém senão a mim. E são nestes momentos que tenho alguma utilidade. Não sei se tenho dono, mas na maioria das vezes acredito ser domínio de alguém. Ou melhor, um domínio de várias pessoas. Ainda estou tentando descobrir se quando estou com estas pessoas sirvo para lhes trazer felicidade, amor e algum outro sentimento, ou se só sirvo mesmo para preencher algum espaço vazio. Eu realmente não sei. Mas embora pareça sentir nada, nos momentos em que estou estagnado sem utilidade, aproveito para ocupar espaço pensando em todas essas coisas. É frustrante ficar sozinho e esperar sempre que alguém finalmente apareça para te usar, mas o bom é que posso descansar um pouco. Quando estou sendo utilizado não sou eu mesmo. Sou um brinquedo apto para obedecer e replicar ações e direcionamentos dos meus manipuladores. E é desta forma que existo. Mas nunca consigo tirar conclusões de nada. Quem são de fato essas pessoas que me tocam? Eu fico pensando e pensando. Eu sei que é estranho ver alguma realidade pela minha perspectiva, até porque estou sempre o mesmo por fora, que o que tenho dentro parece não existir. Me sinto bobo por criar tantos questionamentos em algo tão simples. Talvez eu não entenda que não posso ser utilizado toda hora. Talvez eu queira ter alguém todo momento e não perceba que só sirvo para alguns momentos. Talvez esteja procurando algo real e verdadeiro que faça com que eu me sinta vivo de fato. Talvez esteja cansado de obedecer às regras ou pertencer a alguém. Será que serei sempre a escolha de alguém, ou poderei um dia escolher quando, como e por quem quero ser utilizado? Será que sempre serei utilizado? Talvez esteja criando problemas à toa. Ou eu mesmo sou o problema. Sim. Fico muito tempo parado aqui que minha existência se torna duvidosa. Sou eu. Eu não devo saber se tenho alguma outra utilidade, pois aprendi que é para isso que sirvo. Acho que estou querendo exercer funções que não são minhas. Eu não posso
querer ser mais do que eu sou para os meus manipuladores. Alguém como eu precisa entender que se vivo assim, é porque eles sabem que não importa o que aconteça estarei aqui, parado, um pouco empoeirado nesta mesma prateleira, esperando para ser usado. É, acho que finalmente estou concluindo algo. Tenho dúvidas e não sei exatamente quem sou, mas este é o meu valor: ser útil e pertencer a alguém quando este precisar de mim. Preciso parar. Alguém acaba de chegar e vai me usar. Mas não se preocupe, eu sei que logo irei voltar.
Desabafo sobre o ciclo
Henrique Lima
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